Por Sidney Dias e Walter Polido*
A expectativa de especialistas é a continuação do “hard market”, influenciado pela alta frequência de eventos catastróficos globais em 2023. Desastres naturais como tufões, incêndios florestais e terremotos têm exigido adaptações no mercado, levando ao aumento dos preços de resseguro e, em alguns casos, à redução da capacidade ofertada. É um cenário onde se destaca a importância de parcerias fortes entre seguradoras e resseguradoras, assim como a necessidade de dados muito mais consistentes para a subscrição e a modelagem aprimorada de contratos e visando a sustentabilidade do mercado.
Com o aumento da consciência sobre riscos e a demanda por resseguros, é esperado que o mercado de resseguros Não-Vida cresça acima do PIB. As seguradoras estão mais aptas a absorver perdas de frequência, enquanto as resseguradoras estão retornando ao seu papel principal de apoiar as seguradoras em eventos de grandes perdas. Outro ponto observado é que o mercado de seguros enfrenta desafios como pressões de preços que aumentam os custos dos sinistros e a necessidade de maior transparência nos dados.
As mudanças climáticas, cujos reflexos já são vistos por todos e não mais com a conotação de mera perspectiva de cenários futuros, também atingem o Brasil – antes tido como não suscetível aos riscos da natureza de índole catastrófica. Os seguros agrícolas e o índice de sinistralidade que têm apresentado confirmam essa questão emblemática. A necessidade de se contar com o resseguro internacional nas operações domésticas é incontestável.
Na área dos seguros de propriedades, o mesmo fenômeno impacta os resultados do mercado direto de seguros, ainda que as estatísticas do setor, até o momento, não detalhem os tipos de ocorrências. O mercado de seguros precisa especificar as causas dos sinistros e investir – eventualmente, envolvendo os centros acadêmicos do País – para buscar mecanismos de proteção e prevenção de riscos, de modo a tornar as operações sustentáveis na linha do tempo.
Ainda no tocante ao resseguro e à atividade resseguradora no Brasil, muitos analistas do mercado estão apreensivos em face do PLC 29/2017, cujo modelo impõe regras não conforme com as práticas internacionais. Essa proposta, em tramitação no Legislativo, não possui sustentação quanto à manutenção do resseguro no seu escopo, pois ela trata do seguro privado, enquanto o resseguro tem regramento próprio e já previsto na Lei Complementar nº 126/2007. Espera-se que não ocorra qualquer tipo de retrocesso no tocante ao resseguro, cuja abertura, ocorrida em 2007, propiciou franco desenvolvimento para o setor de seguros diretos no país, sem qualquer tipo de sobressalto.
Além do resseguro, temos discutido nesta série de artigos alguns temas que devem impactar diretamente a dinâmica do mercado de seguros. Leia todo o conteúdo para acompanhar os principais desafios e oportunidades do setor neste ano.
* Sidney Dias é diretor da Conhecer Seguros e profissional experiente do mercado de seguros e finanças. Mestre e Doutor em Informática (PUC-Rio) e Administrador (FGV/EAESP). Membro da IEEE/Computer Society, da Association for Computing Machinery – ACM. Corretor de seguros habilitado em todos os ramos.
Walter Polido é diretor da Conhecer Seguros, mestre em Direitos Difusos e Coletivos, advogado, técnico-especialista em seguros e resseguros, árbitro de diversas Câmaras de Mediação, Conciliação e Arbitragem, parecerista e professor.
Leia os artigos anteriores desta série – Desafios e oportunidades de seguros em 2024
1. Alterações regulatórias
2. Seguro DPVAT
3. Open Insurance
4. Tecnologias digitais
5. Redução da Taxa Selic
6. Reforma tributária
7. ESG na análise e subscrição de riscos
8. Seguro de vida empresarial
9. Riscos cibernéticos
Veja também:
Seguros de vida empresarial: desafios e oportunidades de seguros em 2024