Com o constante crescimento da população urbana no Brasil, a mobilidade tem se tornado uma questão cada vez mais relevante tanto no desenvolvimento de políticas públicas quanto na fabricação e no surgimento de novos modelos de transporte.
Dentro desse movimento, os veículos de mobilidade pessoal (VMPs) elétricos têm sido comuns entre moradores de cidades brasileiras nos últimos anos. Representados, principalmente, por bicicletas e patinetes elétricos, estes meios de transporte têm apresentado ampliação de uso, seja pela compra individualizada ou pelos serviços de compartilhamento oferecidos por empresas do setor de micromobilidade.
Para entender melhor o contexto no qual esses veículos vêm sendo adotados na sociedade brasileira e suas implicações a respeito da segurança viária, a Fundación MAPFRE se juntou ao Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) para lançar o estudo “Segurança viária e veículos elétricos para mobilidade pessoal no Brasil: contexto, percepções e perspectivas“.
“Ao analisar os estudos sobre VMPs elétricos existentes no Brasil, encontramos materiais excelentes de algumas instituições como Labmob ou Aliança Bike. Entretanto, sentíamos falta de uma pesquisa que sintetizasse e discutisse questões relacionadas a segurança viária, legislação, potencial público consumidor, produção acadêmica, além de entender um pouco melhor como esses veículos são mobilizados no debate público – tanto pelos meios de comunicação, como por especialistas da área. Este estudo, de caráter exploratório, tem como propósito principal suprir essa lacuna,” conta Victor Callil, pesquisador do Cebrap e coordenador do estudo.
A pesquisa adotou técnicas quantitativas e qualitativas de investigação para identificar aspectos ligados ao uso desse tipo de veículo nas cidades brasileiras. Revisão bibliográfica, estudo de caso, coleta de dados de ocorrências de trânsito envolvendo usuários de VMPs elétricos (jornais e revistas), dados de portais de notícias e entrevistas em profundidade com atores de destaque no meio foram algumas das ferramentas utilizadas.
O levantamento abordou diversos temas: segurança viária, legislação, representação dos VMPs na mídia nacional, estudos acadêmicos nacionais e internacionais, potencial consumidor de VMPs elétricos no Brasil e sistemas de compartilhamento.
“Com esse material, pretendemos contribuir com informações atualizadas para debates em nível acadêmico, no mercado e junto ao poder público. Mais do que abordar sobre o crescimento da micromobilidade de veículos elétricos no Brasil, esse estudo se propõe a sugerir mudanças que possam tornar a mobilidade urbana mais segura, sustentável e inclusiva”, analisa Fátima Lima, diretora da Fundación MAPFRE no Brasil.
Para a executiva, por meio dos resultados do estudo é possível compreender melhor a necessidade de redução de velocidade das vias, da educação dos motoristas de veículos maiores e da mudança nas leis e na fabricação de bicicletas e patinetes. “Entendemos também que os sistemas de compartilhamento – excelentes na proposta de democratizar o uso desse tipo de veículo – precisam rever seus modelos de negócio para que a cobrança não estimule a velocidade dos motoristas”, complementa.
A pesquisa também analisou os efeitos da pandemia do novo coronavírus na utilização desses sistemas. Ao mesmo tempo em que algumas empresas tiveram de retirar seus veículos da rua, outras ganharam força por conta dos serviços de entrega, que se tornaram essenciais durante o último ano e utilizam bicicletas elétricas para seus deslocamentos.
“O uso de VMPs elétricos nesse tipo de atividade pode ser uma solução muito interessante por dois motivos: por um lado auxilia para uma condição de trabalho menos estafante para o ciclista, que passa o dia circulando pela cidade, por outro, permite ampliar seus ganhos, na medida em que colabora para a ampliação da quantidade de entregas realizadas. Nesse sentido, a pesquisa traz o caso do Ifood Pedal, operado pela Tembici. Trata-se de um sistema de compartilhamento de bicicletas elétricas exclusivas para entregadores. Em entrevistas realizadas com gestores do sistema, identificamos que os entregadores que utilizam bicicletas elétricas têm um aproveitamento 25% maior em sua atividade,” completa Callil.
Principais conclusões do estudo:
>> De forma geral, a circulação de VMPs elétricos é regulada pelas mesmas normas estabelecidas para modos similares à propulsão humana. Foi comum também encontrar cidades sem legislação específica para esses veículos.
>> Os dados também apontam que o interesse sobre VMPs elétricos na internet é relativamente recente. Pesquisas sobre bicicleta elétrica em portais de busca passaram a ganhar notoriedade em 2017 e, sobre patinetes elétricos, em 2018.
>> É consenso na literatura, nos fóruns e entre os entrevistados deste estudo que a promoção de segurança viária para VMPs elétricos se faz através das medidas de acalmamento de tráfego, redução de velocidades e construção de infraestrutura dedicada a modos de transporte da micromobilidade.
>> Em exercício exploratório de coleta e análise de dados de ocorrências de trânsito com VMPs elétricos pôde-se perceber que os sinistros ocorridos com ciclistas de bicicletas elétricas são muito parecidos com aqueles observados entre ciclistas de bicicletas comuns. Já as ocorrências com usuários de patinetes elétricos sugerem uma maior incidência de quedas por desequilíbrio ou imperfeições no pavimento (buracos, grelhas, etc.)
>> Para poder se viabilizar enquanto um modo de transporte viável na realidade brasileira, o patinete elétrico precisa se adaptar a particularidades urbanas das nossas cidades. Entre outros ajustes, são necessárias adequações de freios, suspensão, rodas e pneus, para que eles respondam às nossas características climáticas, viárias e de circulação.
>> Ainda que seu consumo esteja crescendo, o perfil dos usuários de VMPs elétricos no Brasil ainda é muito elitizado e, por enquanto, é um produto com maior entrada nas classes mais altas.
>> Sistemas de compartilhamento são ótimas ferramentas de democratização dos VMPs elétricos, permitindo que eles sejam utilizados por pessoas que normalmente não teriam condições de adquirir um veículo desse tipo. No entanto, é importante que haja uma revisão do modelo de negócio desses sistemas. Por terem uma cobrança por tempo de uso, eles estimulam a velocidade, o que pode gerar riscos e eventuais acidentes. O ideal é que a cobrança seja feita de acordo com a distância (Km inicial ao Km final).
Fonte: Fundación MAPFRE
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