Por Virgilio Marques dos Santos*
No artigo de hoje, vamos analisar a carreira daqueles que decidem abrir sua própria empresa. Para isso, precisamos de algumas definições. No dicionário Aurélio, empreendedor significa: indivíduo que possui capacidade para idealizar projetos, negócios ou atividades; pessoa que empreende, que decide fazer algo difícil ou trabalhoso. Já empresário é aquele que empreende ou dirige alguma indústria, exploração, empresa.
Como as definições são muito amplas, vou chamar por empreendedor ou empresário a pessoa cujo nome consta no contrato social de alguma atividade empresarial, independente do porte. Para avaliarmos essa carreira, esse corte é indispensável.
Como está o empreendedorismo no Brasil?
Definido isso, vamos aos números. Aqui, há uma ampla gama de bases estatísticas disponíveis e nosso desafio é enxergá-las em conjunto. Segundo o DataSebrae, há 19.086.439 matrizes de empresas abertas no Brasil. Se formos pelos números divulgados pelo Ministério da Economia no dia 6/6/22, do primeiro quadrimestre de 2022, temos 19.373.257 empresas ativas no Brasil. Em quem acreditar? Fique à vontade para escolher a sua fonte preferida.
Do total de empresas abertas, a divisão quanto ao porte se dá conforme Tabela 1:
Tabela 1: divisão das empresas abertas no Brasil por porte
Pela tabela 1, é possível ver a diferença na classificação e nos números do Sebrae e do Ministério da Economia. Entretanto, ambos os dados permitem avaliar que a maior concentração de empresas em atividade está nas empresas individuais, microempresas e de pequeno porte (92,4%). Pela classificação do ME, apenas 0,9% do total são Sociedades Anônimas. Ou seja, se optar pela carreira, saiba que a evolução é complicada. Para cada 100 MEIs, há 30 Micros, 10 Pequeno, e 1 SAs.
Como está a evolução do número total de empresas?
No relatório do Ministério da Economia há uma série histórica da abertura e fechamento de empresas no primeiro quadrimestre dos anos de 2012 a 2022, sendo esse último até abril. Com os dados, pode-se plotar um gráfico de controle para perceber a evolução e verificar possíveis explicações para o ocorrido.
Figura 1: evolução do saldo entre empresas abertas e fechadas no primeiro quadrimestre do ano
Pela figura 1, pode-se observar um aumento no número de empresas nos últimos anos no primeiro quadrimestre, mas o dado pode trazer informações contraditórias. Na minha percepção, não faz sentido a comparação entre os primeiros quadrimestres, pois pode excluir efeitos da pandemia e das crises recentes. Para uma análise da evolução das empresas no Brasil, é melhor realizar a comparação anual completa.
Desconsiderando esse fato, pode-se atribuir o aumento no número de abertura de empresas ao desemprego. Nesses casos, o empreendedor inicia um negócio por falta de opção de trabalho, abrindo um MEI ou Microempresa para emitir nota fiscal e se inserir na economia. Portanto, um dado positivo, como o aumento do número de empresas, deve ser visto com cautela. Muitas vezes a carreira de empreender não foi uma escolha, mas, sim, questão de sobrevivência.
Quais os negócios mais explorados pelas empresas no Brasil?
A depender do setor, pode-se observar o fato do empreendedorismo por necessidade ou escolha. Para isso, optou-se pela elaboração de uma tabela com as atividades mais recorrentes em ordem decrescente.
Tabela 2: atividades empresariais mais exploradas no Brasil (Fonte: Sebrae) – clique na imagem para melhor visualização dos dados
Pelo pequeno excerto da lista, contendo as 18 atividades mais recorrentes, pode-se perceber a preponderância do empreendedorismo por necessidade. As principais atividades são as que menos exigem capital e licenças para abertura, fora que o MEI representa a grande maioria. Se pegarmos o Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios, há 760.760 MEIs ativos, ou seja, 76% dessa atividade é exercida por Microempreendedores individuais.
Na promoção de vendas, o número é 92%; cabeleireiros, manicure e pedicure, 97%, e assim por diante. A carreira de empreendedor, a julgar pelas atividades, não parece preocupar-se com a alta produtividade e a inserção do país como player global. Assemelha-se mais ao subemprego, haja vista que os custos do MEI são muito menores que os do empregador de pequeno porte, permitindo assim, que mesmo empresas muito pouco produtivas sobrevivam.
Para comparação, um MEI pode faturar até R$ 6.750,00 por mês e irá pagar um imposto fixo de R$ 60 reais se for prestador de serviços. Se ele abrir uma pequena empresa, só os encargos que irão incidir sobre seu pró labore, mesmo se for um salário mínimo, será de 11% ou R$ 133,32. Portanto, quando se vê os números de empresas subindo, mas principalmente pela abertura de empresas do MEI, deve-se analisar os dados com cautela, não com comemoração.
A criação do MEI, lá em 2008, foi importante para dar segurança e desburocratizar a abertura de empresas. Assim, um empreendedor nessa categoria tem direito a aposentadoria, auxílio-doença, salário-maternidade e pensão por morte para os familiares. Entretanto, isso não pode ser encarado como uma alternativa para alavancar a produtividade do País. Assemelha-se mais a uma política de seguridade social e desburocratização para o primeiro empreendimento.
* Virgilio Marques dos Santos é CEO da FM2S Educação e Consultoria
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