O avanço acelerado dos transtornos mentais entre professores brasileiros, com predomínio inédito dos quadros ansiosos, passou a redesenhar o perfil dos afastamentos ocupacionais na educação e a pressionar os sistemas de saúde pública e suplementar. É o que aponta um novo estudo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar, que analisou dados previdenciários e de segurança e saúde no trabalho ao longo da última década.
De acordo com o levantamento, em segmentos da educação infantil, que atendem crianças de zero a seis anos, 100% dos afastamentos acidentários registrados estão relacionados a transtornos ansiosos, como ansiedade generalizada, ansiedade mista e sintomas ansiosos não especificados. Entre professores que atuam na alfabetização de adultos e nas séries iniciais, a ansiedade também domina o cenário, respondendo por 75% dos afastamentos, evidenciando uma concentração sem precedentes desse tipo de adoecimento na docência.
A análise integra a série Caminhos da Saúde Suplementar: Perspectivas 2035 e identificou que ansiedade, depressão, reações ao estresse, quadros adaptativos e episódios depressivos figuram entre as principais causas de afastamentos ocupacionais e previdenciários entre professores, especialmente na educação infantil e nos primeiros ciclos do ensino básico.
Embora baseada em dados do INSS e do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, a pesquisa dialoga diretamente com o ecossistema da saúde ao revelar tendências estruturais que tendem a impactar tanto o SUS quanto a saúde suplementar nos próximos anos. Profissões com alta carga emocional, como a docência, devem ampliar a demanda por atendimento psicológico e psiquiátrico, reforçando a necessidade de políticas preventivas e modelos assistenciais mais integrados.
“O adoecimento mental dos professores afeta a qualidade do ensino, reduz produtividade, aumenta custos públicos e privados de saúde e educação e eleva a procura por serviços especializados”, afirma o superintendente executivo do IESS, José Cechin. “Monitorar essas tendências é fundamental para orientar ações de prevenção e gestão até 2035.”
O estudo também insere o Brasil em um movimento global de crescimento de burnout, ansiedade e depressão entre docentes, intensificado após a pandemia de Covid-19. No cenário nacional, fatores como indisciplina, conflitos interpessoais, violência escolar, sobrecarga emocional e falta de apoio multiprofissional tornam o ambiente educacional ainda mais desafiador.
A publicação diferencia ainda os desafios enfrentados por professores que atuam com adolescentes típicos daqueles que lecionam para alunos com transtorno do espectro autista ou Síndrome de Down. Nesse grupo, o risco de esgotamento é maior quando não há formação específica, suporte técnico ou equipes interdisciplinares de apoio.
Para os próximos anos, o estudo recomenda medidas como formação continuada em saúde mental, ambientes escolares mais acolhedores, equipes multiprofissionais e maior integração entre políticas de saúde, educação e assistência social. Essas ações são consideradas essenciais para reduzir afastamentos e mitigar os impactos sobre os sistemas de saúde.
Os resultados reforçam que o avanço dos transtornos ansiosos e depressivos na docência tende a elevar de forma consistente a demanda por atenção em saúde mental, com efeitos diretos sobre a rede pública e a saúde suplementar. A compreensão dessas tendências é vista como estratégica para que operadoras, gestores públicos e empresas se preparem para um cenário de maior utilização de serviços especializados, pressão adicional sobre a capacidade assistencial e necessidade crescente de abordagens preventivas.






