Por que tanto debate sobre a taxa de juros?

Por Felipe Crema*

 

A taxa de juros tem grande importância na vida das pessoas e no desenvolvimento do País. Ela determina o retorno dos investimentos, o custo do dinheiro para as operações de empréstimos e financiamentos, além de impactar na política fiscal.

O tema costuma ser objeto de discussão entre especialistas, políticos e sociedade, que nem sempre concordam com as decisões e os rumos definidos pela autoridade monetária. Cabe ao Banco Central do Brasil (BCB) definir a taxa de juros adequada ao momento econômico do País, buscando, acima de tudo, controlar a inflação para garantir que esteja dentro dos limites estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional. Essa taxa é conhecida como Selic.

Quando a inflação está alta, o BCB aumenta a taxa de juros para desestimular o consumo, a demanda e os gastos do governo. Como a Selic é base para todas as demais taxas do mercado, sua elevação provoca diferentes efeitos na economia.
O custo do crédito, por exemplo, aumenta com a elevação da taxa básica. Isso faz com que os tomadores fiquem mais cautelosos e reduz o estímulo de investimento produtivo por parte das empesas e o consumismo das pessoas. Simultaneamente, a maior atratividade das aplicações em títulos de renda fixa leva a um aumento no volume de poupança e investimento financeiro.

Para o governo, fica mais caro rolar a dívida e financiar seus déficits, o que aumenta o endividamento público e reduz os recursos disponíveis para expandir e custear a máquina pública. Além disso, afeta os investimentos em áreas como saúde, educação e infraestrutura.

Essa combinação de efeitos faz com que os preços dos bens e serviços reduzam ou estabilizem com o tempo. Porém, em determinadas circunstâncias, podem levar à desaceleração da economia e ao aumento do desemprego no médio/longo prazo.

Por outro lado, quando a inflação está baixa, o Banco Central pode reduzir a taxa de juros para estimular o investimento produtivo, o consumo e a demanda. Apesar dessa medida contribuir com o crescimento econômico e a geração de emprego, com o tempo pode causar um aumento no nível geral de preços, pressionando novamente a inflação.

A relação entre o endividamento público e a taxa de juros é ainda mais curiosa. Por um lado, o déficit público afeta a taxa, pois quanto maior for a dívida de um país, maior será o risco percebido pelos credores de que o governo não consiga honrar seus compromissos.

Para continuar financiando o governo, os credores passam a exigir uma taxa de juros mais alta, o que eleva o custo da dívida. Por outro lado, afeta o endividamento público, pois quanto maior for a taxa, maior será o gasto do governo com o pagamento dos juros da dívida, aumentando o déficit fiscal e a necessidade de novos empréstimos.
O caráter dinâmico e cíclico da economia, a interligação entre os fatores e o equilíbrio tênue entre os benefícios e riscos de cada decisão tornam esse processo extremamente complexo. Isso sem contar com os impactos provocados por eventos inesperados, os chamados “choques”.

Em 2021, a pandemia de Covid-19 causou grandes problemas em toda a cadeia produtiva. A queda na produção e, consequentemente, na oferta de produtos e serviços resultou no aumento da inflação em todo o mundo. No Brasil, esse problema foi agravado pela crise política, que aumentou a desconfiança dos agentes econômicos.

A incerteza sobre a efetividade nas ações promovidas pelo Estado e pelo regulador para controlar os preços podem levar à inflação inercial. Nesse contexto, os agentes passam a incorporar na composição dos preços a expectativa da inflação futura e gera ainda mais inflação.

Por isso, além de combater os efeitos nocivos do aumento de preços, a elevação da taxa de juros também serve para reafirmar o comprometimento do BCB no cumprimento das metas de inflação, reestabelecendo a confiança do mercado e ancorando as expectativas futuras.

A taxa de juros é, portanto, um instrumento importante para a gestão da política monetária e fiscal do Brasil. Ela afeta o crescimento econômico, os investimentos público e privado, o crédito, a geração de empregos e o bem-estar social.
Na vida das pessoas, ela é percebida diretamente no poder de compra, no nível de endividamento, na capacidade de poupança e nos investimentos. Por isso, é fundamental acompanhar sua evolução e entender seus efeitos.

 

* Felipe Crema é contador e administrador de empresas, pós-graduado em Finanças Corporativas e Investment Banking (FIA-USP). Profissional experiente do mercado financeiro e de seguros, atua como diretor financeiro da Conhecer Seguros e da cooperativa de crédito Credicor-SP.

 

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