Orçamento de TI e o futuro das seguradoras

Por Sidney Dias*

Os executivos das seguradoras estão lidando com a urgência na tomada de decisões sobre suas estratégias e investimentos em Tecnologias da Informação e de Comunicação (TICs). Uma combinação de forças está transformando o setor, aumentando fortemente a pressão sobre esses executivos e os orçamentos das companhias em que atuam, particularmente nas áreas de TI.

A pandemia da Covid-19

A primeira e mais importante força a atingir as seguradoras no último ano foi, sem dúvida, a pandemia da Covid-19. A rápida transição para o trabalho remoto forçou mudanças drásticas na infraestrutura de tecnologia das companhias, tanto para viabilizar a continuidade das operações utilizando seus empregados em home office, quanto para rever e fortalecer as medidas relacionadas com a segurança da informação.

Os impactos se fizeram sentir muito além dos processos da área de TI. A pandemia forçou mudanças em quase todas os departamentos das seguradoras, demandando soluções para fragilidades percebidas no relacionamento com prestadores de serviços, corretores de seguros e clientes.

A transformação digital foi acelerada. Em áreas das companhias onde antes havia resistências, foi possível concluir – de alguma forma – iniciativas que se encontravam paralisadas.

Ainda que a maioria das seguradoras celebre sua capacidade de adaptação para fazer frente aos desafios trazidos pela pandemia com o uso de recursos tecnológicos, a travessia da turbulência da Covid-19 mostrou a necessidade de serem feitos maiores investimentos nas suas infraestruturas tecnológicas.

A iniciativa do Open Insurance

Outra força muito relevante é a do Open Insurance, uma iniciativa da Susep que permitirá às seguradoras acesso compartilhado a parte dos dados pessoais de segurados de outras companhias, desde que autorizados pelos seus titulares. A ideia é permitir que os clientes possam obter produtos e serviços mais adequados às suas necessidades, tanto em termos de coberturas quanto de preços.

Para grande parte das companhias do mercado de seguros brasileiro, a participação no Open Insurance é mandatória, e elas devem seguir o cronograma definido pela Susep. Certamente, alterar sistemas para viabilizar esse compartilhamento dados será uma prioridade das companhias para os próximos meses, exigindo aumento dos recursos para as áreas de TI.

As mudanças regulatórias e os sistemas legados

Uma iniciativa da Susep que exige forte atenção por parte dos executivos das companhias é com relação à criação de novos produtos. As mudanças regulatórias, com flexibilização das regras para criação de produtos de seguros, foram bem recebidas pelo mercado.

As possibilidades de criação de produtos efetivamente inovadores, no entanto, serão limitadas em muitas companhias que utilizam sistemas antigos para o suporte aos seus negócios. Esses sistemas são complexos e de difícil manutenção: a introdução de mudanças demandará, além de tempo, investimento em pessoal especializado e em recursos tecnológicos, pressionando o orçamento de TI.

Muitas seguradoras tradicionais, bem posicionadas no mercado de seguros, possuem sistemas legados, profundamente adaptados aos seus processos de retaguarda, com mudanças acontecendo de forma lenta e planejada em detalhes, com muita antecedência.

E isso, que até há pouco era visto como um diferencial competitivo, está se revelando um forte ponto de atenção: as companhias têm que enfrentar novos concorrentes, que possuem muita agilidade, pois estão livres para utilizar novas tecnologias, focar em novos produtos e novas formas de entrega dos serviços aos segurados – as insurtechs e outros novos entrantes no setor.

Sem o suporte tempestivo de recursos tecnológicos, as áreas comercial e de produtos da seguradora nada podem fazer e ficarão impotentes vendo o avanço dos concorrentes. As decisões que os executivos devem tomar agora definirão os caminhos dos próximos anos.

É necessário um olhar crítico e inovador para com os sistemas e a infraestrutura tecnológica legados de cada companhia, identificando maneiras de maximizar o seu uso no suporte às mudanças que estão acontecendo nos modelos de negócio de seguros.

Quanto uma seguradora deve destinar ao seu orçamento de TI?

Em cada seguradora, o total de recursos alocados ao seu orçamento de TI é definido pelos seus executivos, seguindo diretrizes definidas pelos acionistas. E a decisão é complexa: entram aspectos como a estratégia de negócios da companhia, os movimentos realizados pelos concorrentes – ou deles esperados, as mudanças econômicas e regulatórias, as mudanças tecnológicas e, principalmente, as mudanças nos hábitos e comportamentos dos consumidores dos seus produtos, por exemplo.

Ainda assim, é possível se utilizar como referência um percentual médio dos desembolsos realizados pelas seguradoras, relacionados tanto a investimentos quanto a custeio (Capex e Opex).

De acordo com estudo realizado pela Deloitte (**), os desembolsos planejados pelos executivos das seguradoras para o ano de 2020 representavam, em média, 5,58% do total de receitas das respectivas companhias.

O tamanho do orçamento de TI de cada empresa é algo que deve ser considerado em função de suas particularidades. Seguradoras de pequeno e médio portes certamente enfrentam o desafio de destinarem recursos para os orçamentos de TI em percentuais muito acima desse valor médio observado, sob pena de perderem competitividade.

Por outro lado, as grandes seguradoras, embora possam dispor de maiores orçamentos para as áreas de TI, enfrentam desafios como a manutenção e a atualização da infraestrutura tecnológica legada, que consomem a maior parte dos seus recursos.

A tecnologia está mudando a indústria de seguros de forma rápida e os executivos das seguradoras devem rever suas visões sobre o futuro dela no seu negócio. Em cada companhia, seus dirigentes devem reavaliar as forças e fraquezas da sua área de TI e avaliar o quanto elas podem ajudar ou limitar a sua estratégia para o futuro.

Em muitas empresas, os desembolsos com TI já estão sendo analisados como investimentos que devem ser correlacionados com seus resultados, deixando para trás o tempo em que eram tratados como custos que precisavam ser reduzidos.


** Deloitte, 2020 Global Technology Leadership Study. Estudo feito com mais de 1.300 executivos, de 69 países, atuantes em empresas de 22 setores econômicos.

* Sidney Dias é diretor da Conhecer Seguros, mestre e doutor em Informática. Graduado em Administração Pública, é professor em cursos de graduação e pós-graduação e membro de instituições internacionais, como a IEEE/Computer Society, da Association for Computing Machinery (ACM), da Information Systems Audit and Control Association (ISACA) e da International Coach Federation (ICF). É, também, corretor de seguros habilitado em todos os ramos.


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