Por André Ito*
Anos atrás, quando visitei, pela primeira vez, fazendas no Mato Grosso, tive a oportunidade de conhecer um mundo novo, que não era tão grande e ainda estava, em parte, preso à informalidade. Os produtores rurais mal sabiam controlar a contabilidade. A gente anotava dados financeiros que eles tinham de cabeça e ditavam. Não era simples para o mercado em geral e para o setor financeiro fechar negócios ou aportar recursos porque os dados disponíveis não mostravam, com exatidão, a verdadeira situação de cada produtor rural.
Pois o tempo passou e, hoje, o agronegócio é o setor econômico mais pujante do Brasil. Sozinho, representa 25% do PIB, e essa participação tende a aumentar nos próximos anos. E pensar que todo esse crescimento ocorreu com poucos instrumentos de financiamento disponíveis. No começo era praticamente um: os bancos. E ainda assim, os empréstimos eram feitos, de forma geral, com base no CPF dos produtores, porque as fazendas eram propriedades familiares e não empresariais.
Mas de lá para cá houve uma grande evolução com a criação de novas formas de financiamento como o CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) e, mais recentemente, o Fiagro (Fundo de Investimento do Agronegócio). Este último, porém, representa um salto maior porque possibilita a participação de pequenos produtores na formação dos fundos. Ou seja, o mercado de capitais ficou acessível a uma quantidade bem maior de agricultores e pecuaristas e melhor, atende a empresas que não são especificamente rurais, mas que estão atreladas ao agronegócio.
Como exemplo, uma fabricante de garrafas pode ser incluída no portfólio de um Fiagro porque ela atende ao setor vinícola. E o setor vinícola precisa envasar sua produção para a venda. Fabricantes de outros insumos, empresas do setor logístico ou especializadas na construção de silos. O Fiagro foi criado não só para financiar plantio, ou a criação de gado e sim para atender as necessidades financeiras de toda a cadeia do agronegócio.
Como se vê, o potencial de crescimento, de geração de negócios e de oportunidades de investimentos que o agro oferece vai muito além daquilo que o mercado percebe. E o Fiagro se mostra como ótima porta de entrada para este mundo de oportunidades. Até porque não é preciso se preocupar em entender do assunto para investir com segurança, já que os gestores oferecem pulverização e capacidade de analisar os riscos em nome do investidor.
Na indústria do Fiagro, o papel do gestor é fundamental para entender e entregar a carteira mais adequada ao perfil do investidor. Assim, há fundos com maior exposição ao setor sucroalcooleiro, outros voltados mais para a pecuária e por aí vai. Na realidade, o Fiagro representa uma grande evolução para os dois lados: os produtores que passam a contar com mais uma forma de obter recursos mais baratos e os investidores que ganharam mais um canal para aumentar seus rendimentos de forma bastante segura.
Hoje os Fiagros movimentam R$ 12 bilhões, mas a necessidade de financiamento do agronegócio gira na casa dos R$ 900 bilhões/ano. Estamos apenas arranhando a superfície de um mercado gigantesco. Quando essa fase de juros exorbitantes passar, e isso deve acontecer logo, pois o Brasil vive de ciclos, a expectativa é de que a indústria do Fiagro mais do que dobre de tamanho todos os anos, contribuindo para o avanço do setor e também para a redução da intermediação bancária, como é nos países desenvolvidos.
*André Ito é sócio fundador e gestor da MAV Capital.
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