Willy Hagi*
Condições climáticas adversas representam um grande risco de danos e perdas financeiras, que afetam o patrimônio de pessoas e empresas em todos os setores da sociedade. Para corretores de seguros, seguradoras e segurados, o clima sempre será um fator determinante para ocorrências de sinistros, tanto no campo quanto nas grandes cidades. E um desses riscos mais importantes, atualmente, está ligado ao fim do atual ciclo da La Niña e as chances do próximo El Niño.
O que conhecemos como El Niño e La Niña fazem parte de um fenômeno climático maior chamado de El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que varia entre três fases diferentes com repercussões climáticas globais. A La Niña é a fase fria, ou negativa, enquanto o El Niño é a fase quente positiva e no meio do caminho há a condição de neutralidade – nem uma, nem outra.
Até o momento, a fase do ENOS ainda se mantém de forma consistente no estado de La Niña e deve se manter como tal ao menos durante o primeiro trimestre de 2023. Por outro lado, já é possível ver sinais de enfraquecimento e os indicadores climáticos parecem apontar que este, enfim, será o terceiro e último verão dessa sequência que começou lá no segundo semestre de 2020.
Para entender melhor como funciona esse vai e vem do ENOS, é importante ter em vista alguns dos índices climáticos que representam a variabilidade oceânica e atmosférica no Pacífico, como os conhecidos Niños e o Índice Oscilação-Sul. A última atualização do Índice Niño 3.4, localizado bem no centro de ação do ENOS no Pacífico tropical, mostra o resfriamento de -0,89 °C abaixo da média histórica, em dezembro de 2022.
Em outros termos, a La Niña atualmente está dentro do limiar de intensidade fraca e vem se enfraquecendo de forma constante desde setembro. Diante desse cenário, surgem as inevitáveis questões: é o fim? O próximo El Niño vem aí? Até aqui, tudo indica que estamos muito próximos de finalmente encerrar esse longo ciclo.
A previsão oficial do Climate Prediction Center (CPC), um dos principais centros de monitoramento climático do planeta, indica exatas 80% de chances de retorno para condições de neutralidade do ENOS a partir do trimestre de fevereiro a abril deste ano. Ou seja, o fim da La Niña parece estar cada vez mais próximo no horizonte climático.
Como tudo o que é bom dura pouco, a neutralidade parece que não vai tardar a dar lugar aos sinais de aquecimento típicos de um El Niño a partir do segundo semestre do ano. As chances do próximo El Niño, de acordo com as previsões mais recentes até o momento, podem começar a superar a neutralidade apenas a partir do trimestre de junho a agosto.
É importante lembrar que estamos lidando com um fenômeno muito complexo que depende de alguns fatores importantes, que vão desde a intensidade até tipos diferentes de ENOS. De qualquer maneira, os seus próximos passos vão ser acompanhados de perto pelos principais institutos de monitoramento climático e pelos setores da economia que dependem diretamente dos humores do Oceano Pacífico, como a agricultura e energias.
Em um momento como o que nos encontramos, é essencial que todos os envolvidos no mercado de seguros, mas particularmente os que atuam com especial atenção na área dos seguros rurais, incluam no seu planejamento de médio e longo prazo para 2023 e 2024 as análises de riscos apoiadas em boas informações e inteligência climática. Entender essas variações de forma consistente e acurada certamente será essencial para este setor que já acumulou muitas perdas – na casa dos milhões de dólares -, particularmente na região sul do País.
* Willy Hagi é meteorologista, mestre em Clima e Ambiente, consultor e fundador da Meteonorte
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