Por David Legher*
O cenário desafiador de pandemia deixará para sempre a sua marca na história de todas as pessoas, empresas e mercados, especialmente o de seguros de vida. Constatamos que a repentina crise na saúde e as consequentes medidas de isolamento social despertaram ainda mais reflexão e conscientização das pessoas a respeito da vulnerabilidade e finitude da vida, abrindo espaço para que o setor, por exemplo, tenha se mantido resiliente até este momento e com ainda mais expectativa de crescimento ao longo dos próximos anos.
Em 2020, as contratações individuais de seguro de vida cresceram 26,2% em prêmios no comparativo com 2019, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Também de acordo com a instituição, entre janeiro e abril de 2021, o mercado de Seguros de Pessoas, que contempla o ramo Vida, apresentou um crescimento de 11,5% em relação a 2020, faturando cerca de R$ 15,8 bilhões. Foi maior que o de Seguros de Automóveis, que registrou apenas 4% de crescimento, mantendo-se como segmento de maior participação no mercado geral, com 37%.
Adicionalmente, uma pesquisa recente da Prudential Internacional em parceria com o Ipsos também revelou que os consumidores passaram a dar mais importância para a garantia de uma proteção financeira caso não possam trabalhar, já que 63% valorizam mais a necessidade de apoio financeiro diante de doenças; 60% se preocupam mais em proteger seu “equilíbrio” financeiro agora e no futuro; e 23% pretendem comprar um seguro de vida ao longo de 2021.
Esse momento tão relevante – que reflete uma mudança significativa de comportamento dos consumidores na direção de um maior desenvolvimento da cultura da educação financeira – ocorre simultaneamente ao movimento de transformação digital nas seguradoras, fruto das ações coordenadas e estratégicas das companhias na implantação de novos projetos e funcionalidades tecnológicas que permitiram a plena continuidade dos negócios diante da pandemia.
Nesse sentido, identificamos hoje um mercado repleto de adaptações e inovações que facilitarão a distribuição e o desenvolvimento de produtos – ampliando o alcance e a velocidade de disponibilização de novos seguros, estes, ainda mais customizados às necessidades dos clientes -, o que simplifica o processo de distribuição pela maior aderência e receptividade.
O estudo recente “As seguradoras da América Latina se adaptam à era digital”, publicado pela Fitch Ratings, uma das três maiores agências de classificação de risco ao lado da Standard & Poor’s e da Moody’s, afirma que implantação de um modelo operacional digital será um pré-requisito para o sucesso no mercado segurador latino-americano nos próximos anos. Isso exigirá um investimento significativamente maior em infraestrutura e tecnologias inovadoras.
De acordo com a pesquisa, a transformação digital das seguradoras latino-americanas está mais avançada no gerenciamento de vendas e foi acelerada pela pandemia porque as companhias tiveram que distribuir seus produtos digitalmente, incluindo a disponibilização de assinaturas digitais.
Na esteira deste processo, enxerga-se grande potencial para a oferta personalizada de conteúdo, aumentando o conhecimento dos clientes, apoiando o amadurecimento de consumidores e do próprio mercado. Inovações como o uso da Inteligência Artificial também devem ser consolidadas como importantes ferramentas na recomendação de produtos e serviços para os consumidores, baseando-se em seus perfis e demandas. Teremos ainda o uso cada vez maior de tecnologias interativas, como chatbots e ferramentas de autosserviço, aumentando a autonomia das pessoas na gestão de seu portfólio de produtos.
Vale ressaltar outro ponto de evolução do setor de seguros de vida no que se refere ao desenvolvimento de programas que tragam não só os benefícios da proteção financeira dos seguros diante de imprevistos, mas que também incentivem a saúde, o bem-estar e hábitos saudáveis dos clientes, a partir do conceito de saúde global, que envolve saúde física, mental e financeira, com foco na longevidade.
Inclusive, o cenário atual encontra-se altamente propício para este tipo de iniciativa, visto que uma pesquisa recente do Instituto DataSenado revelou que a saúde é a principal preocupação dos brasileiros e um levantamento da Universidade de Harvard destaca que a expectativa de vida no Brasil, lamentavelmente, foi reduzida em dois anos por conta da crise na saúde.
Em meio a tantas expectativas positivas para o mercado, em consonância com uma estrutura regulatória que vem permitindo e estimulando um ambiente de inovação saudável – como o SandBox regulatório lançado em 2020 e supervisionado pela Susep – construímos o elo fundamental para o protagonismo do mercado de seguros de vida nos próximos anos.
Essa visão de modernização do setor somada ao grande potencial dos canais de distribuição de seguros de vida, altamente qualificados e especializados, além de produtos exclusivos, de longo prazo e alto valor agregado, revela um futuro robusto que acaba de bater à porta e traz com ele a dose certa de inovação, concorrência e, principalmente, bem-estar, segurança e ainda mais proteção para todos os brasileiros.
* David Legher é presidente e CEO da seguradora Prudential do Brasil, a maior independente do país no mercado de Seguros de Pessoas
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