De acordo com estudo realizado pela Conhecer Seguros, mais de 60% das cidades brasileiras não possuem corretores de seguros. São, aproximadamente, 40 milhões de pessoas sem acesso aos especialistas, mas que, ao mesmo tempo, respondem por 9% do PIB do País, ou seja, algo em torno de R$ 650 bilhões.
Os dados foram apresentados pelo diretor da Conhecer Seguros, Sidney Dias, no programa “Seguro em Debate”, da Seguro Nova Digital. O especialista foi convidado para abordar o tema “Faltam corretores de seguros no Brasil?”. A transmissão ao vivo aconteceu no dia 4 de maio e está disponível no canal SND Play, no Youtube.
Dias apresentou, em primeira mão, o estudo que leva em consideração dados apurados em setembro de 2021. O material cruza dados de corretores de seguros disponibilizados pela Susep, com índices do IBGE relacionados à população por município, levando em consideração ainda o PIB. “Nós recorremos à Susep com base na Lei de Acesso à Informação e a autarquia prontamente nos respondeu, informando dados anonimizados de corretores(*), o que possibilitou fazer a associação dos números com os municípios.”
O Diretor da Conhecer Seguros informou que menos de 5% do total de registros de corretores de seguros não puderam ser associados aos dados dos municípios da base do IBGE e, por esse motivo, foram descartados. “O mapeamento realizado possui uma precisão elevada, apesar do descarte desses registros. Embora não comprometam as principais conclusões a que chegamos, na próxima edição do estudo buscaremos reduzir ao mínimo ou, até mesmo, eliminar o descarte de registros sobre corretores de seguros ativos. Isso vai tornar ainda mais preciso o mapeamento feito”, explicou Dias.
Em setembro de 2021, o Brasil contava com total de 112 mil corretores de seguros, entre pessoas físicas e jurídicas, sendo que 66% estavam concentrados em apenas 40 cidades do Brasil – o País possui cerca de 5,5 mil municípios. “E nós questionamos: como esse público está tendo acesso à proteção do seguro? Enquanto não tivermos consciência do problema, não conseguiremos nos organizar para apresentar soluções que mudem essa realidade”, declara Dias.
Seis Estados contam com os índices menos favoráveis. O destaque fica com Roraima, onde, em média, tem um corretor para cada 28 mil habitantes. Em seguida, o Amapá, com um profissional para cada 19 mil habitantes, Acre para 15 mil pessoas, Maranhão para 11 mil e Piauí para 10 mil, neste último, 90% dos municípios não tem corretor de seguros.
Dados do Estado de São Paulo
O Estado de São Paulo contém cerca de 40% dos corretores de seguros do Basil, mas os profissionais estão concentrados. Cerca de 1/3 das cidades não possuem um corretor – são 215 municípios sem a presença da distribuição. “Mais da metade dos corretores estão na Grande São Paulo e em cidades específicas do interior, como Campinas, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto”, completa Dias.
A região metropolitana do Estado tem o menor número de habitantes por corretor. Por exemplo, em São Caetano do Sul são menos de 300 habitantes por corretor. Em compensação, existem cidades com cerca de 37 mil habitantes por corretor. “A percepção é que mesmo em cidades como São Paulo existe uma carência de suporte do corretor, principalmente em regiões mais afastadas ou com predomínio de classes de menor renda. Se não olharmos para esses dados, não mudaremos a realidade da população e do mercado de seguros no País”, declarou Dias.
O que fazer
Para o diretor da Conhecer Seguros, é ilusão pensar que se o mercado formar mais 120 mil profissionais irá diminuir a desigualdade. “Essa concentração acontece por uma série de razões, como maior nível de atividade econômica na região, presença de micro, pequenas e grandes empresas, quantidade de pessoas, educação, cultura financeira, entre outros. Em um país como o Brasil, com o atual nível de desigualdade, é ilusão pensar que multiplicando a quantidade de corretores habilitados resolveremos o problema. Provavelmente a habilitação massiva não só agravaria, como multiplicaria o problema”, acredita.
O corretor, segundo ele, precisa ampliar sua atuação para melhorar o faturamento do seu negócio, e isso se adquire com capacitação pessoal e de colaboradores, além de investimento em tecnologia para estar presente, cobrindo distâncias. “No entanto, precisamos entender que a maioria dos corretores não tem como investir em tecnologia, sistemas e equipamentos.”
Segundo dados da Fenacor de 2019, cerca de 50% das corretoras PJ do País possuem renda média mensal em torno de R$ 6 mil. “Não podemos esperar que o corretor invista sozinho, a responsabilidade não é apenas dele, mas de todo o mercado. Precisamos construir caminhos”, declarou Dias.
A capacitação
Em 2021, o setor de seguros (supervisionado pela Susep) teve participação de aproximadamente 3,5% no PIB; em países mais maduros o índice está entre 6 a 10%. Para alcançar esse resultado no mercado nacional, o diretor da Conhecer Seguros acredita ser necessário discutir e disponibilizar produtos mais adequados para a realidade da população brasileira, além de garantir uma remuneração adequada para os corretores. “Não vamos dar esse salto apenas com opinião. Precisamos arregaçar as mangas, seguradoras, corretores, instituições de ensino. E nós, da Conhecer Seguros, acreditamos que o caminho inclui a preparação de todos os profissionais para atuar neste cenário.”
Para Dias, a capacitação do corretor envolve o pensar no negócio digitalmente e isso implica em uma série de treinamentos neste percurso. “Por isso, nos preocupamos em tornar esses treinamentos acessíveis, mantendo a qualidade com uma grade de professores capacitados. Hoje, nós oferecemos cursos online gravados bastante acessíveis, na faixa de R$ 100. Mas reforço: mais do que pensar em um curso específico, precisamos pensar na necessidade de diferentes capacitações e com todos os profissionais e empresas do setor trabalhando em conjunto.”
Ele reforçou ainda que o corretor não deve ser visto como um vendedor. “O corretor é um consultor financeiro, um especialista em gestão de risco, que busca soluções mais adequadas para a proteção das pessoas. Ele cumpre o papel de levar informação do que existe no mercado e, ao mesmo tempo, identificar onde esses produtos se encaixam na vida das pessoas. É através do conhecimento que conseguimos alcançar a transformação e trazer mudanças para o mercado de seguros”, concluiu.
(*) Foram fornecidos os seguintes dados: UF, Cidade, tipo do corretor (PF ou PJ) e situação (Ativo ou não)