Esperando um bicentenário da Independência com desafios macroeconômicos relevantes, mas ainda com oportunidades

Por Robson Rodrigues Pereira*

O ano de 2022 deverá ser o de retomada da normalidade pós-pandemia, ainda que não saibamos, ao certo, o que significará esse novo normal, diante de potenciais mudanças nas interações sociais e hábitos de consumo e de trabalho.

Por outro lado, do ponto de vista macroeconômico, deverá ser também um período de desafios relevantes para o mundo e o Brasil. Cabe, neste momento de deterioração das expectativas para os indicadores econômicos, fazermos algumas ponderações.

O setor de seguros, de modo particular, registrou expansão durante a crise trazida pelo coronavírus e continua com expectativas bastante favoráveis quando consideramos horizontes de tempo mais amplos.

De acordo com a Pesquisa Focus do Banco Central, realizada com mais de 100 áreas econômicas, o crescimento do PIB brasileiro deverá ficar em torno de 1,0% em 2022. Algumas casas já explicitam até mesmo a possibilidade de resultados mais próximos a zero ou ligeiramente negativos, após uma estimativa de crescimento em torno de 5% neste ano. Essas projeções são compatíveis com um cenário que deve ser impactado por alguns fatores:

(i) redução, já anunciada, de estímulos monetários por parte do Federal Reserve, o banco central dos EUA;

(ii) desaceleração, já em curso, da economia chinesa;

(iii) alta de juros, aqui no Brasil, em magnitude já superior ao que se esperava inicialmente, para combater a inflação; e

(iv) possível aumento da volatilidade dos preços de ativos financeiros, natural em momentos de transição política. Ademais, deveremos acompanhar com atenção os riscos hidrológicos nacionais e as restrições de oferta que afetam várias cadeias produtivas em escala global, como a do setor de chips e semicondutores.

Os dois fatores globais deverão levar ao aumento da aversão ao risco, pressão baixista sobre preços de commodities, enfraquecimento das moedas de países emergentes e volatilidade dos mercados financeiros internacionais.

Já os dois outros tendem a reduzir o ritmo de expansão do consumo e dos investimentos de forma direta, com possíveis impactos sobre o emprego e a renda. Claro que todos esses fatores podem se materializar em magnitude maior ou menor, diante de contrapartidas de política econômica, com ações de estímulo.

Esse cenário esperado para a economia brasileira traz desafios relevantes para os negócios em geral e também para o setor de seguros, embora algumas ressalvas devam ser feitas diante da fala dos mais pessimistas.

Não devemos nos esquecer que há alguns fatores mitigatórios desses riscos baixistas para o crescimento do PIB no próximo ano. Espera-se uma recuperação completa do setor de serviços, com os avanços na imunização. O leilão de 5G no Brasil, ainda que os seus benefícios só devam se materializar plenamente até o final da década, deve gerar impactos favoráveis imediatos, aumentando a conectividade, a inclusão digital e contribuindo para desenvolver novos serviços.

O dinamismo do setor agropecuário nacional, cuja renda deverá se manter elevada, continuará favorecendo a economia principalmente das pequenas e médias cidades. A desaceleração prevista na inflação, de acordo com a Pesquisa Focus, deverá ser benéfica para melhorar o poder aquisitivo da população, principalmente da parcela com menos recursos materiais.

A poupança financeira acumulada durante a pandemia, materializada na expansão das captações bancárias e fruto da renda que não pôde ser utilizada quando a economia esteve fechada, continuará elevada e tenderá a amortecer eventuais reveses no consumo de algumas camadas sociais.

Do ponto de vista mais estrutural, um dos legados deixados pela pandemia foi exatamente a emergência da percepção de que imprevistos acontecem, alguns com elevado potencial negativo. Tais imprevistos, chamados de choques pelos economistas, podem alterar significativamente os planos dos agentes econômicos.

Ainda que possamos acreditar que eventos similares ao da pandemia só ocorram a cada 100 anos, somos obrigados a reconhecer que reduções não previstas na renda são muito frequentes, assim como sinistros relacionados a veículos e à vida, como infelizmente vimos nos últimos meses.

A necessidade de aquisição de proteção diante desses eventos, pelo menos do ponto de vista financeiro, é algo, cada vez mais, reconhecido pela população em várias camadas sociais. Podemos dizer que tal reconhecimento insere-se em um tema maior, qual seja, o de educação financeira que tem sido inserido entre crianças e adolescentes.

Ainda do ponto de vista estrutural, não podemos nos esquecer da dinâmica demográfica, que tem levado ao envelhecimento populacional no Brasil. Trata-se de um aspecto independente dos altos e baixos da conjuntura econômica, que traz grandes oportunidades para os negócios em geral e também o mercado de seguros, por exemplo, no segmento de saúde.

Do lado das oportunidades ao setor, há vetores imponderáveis relacionados ao pós-pandemia. Por exemplo, as pessoas passarão mais tempo em casa, trabalhando? Utilizarão com mais frequência seus veículos próprios ou de aplicativos, reduzindo a utilização do transporte público?

São questões cujas respostas ainda não são conhecidas, mas que podem abrir espaço para avanço mais rápido nos segmentos de seguro residencial e de veículos, respectivamente.

Por fim, em um mundo, cada vez mais, conectado, com aumento exponencial do volume de transações comerciais e financeiras e maior exigência das contrapartes, quais são as oportunidades para o segmento de seguro de responsabilidade civil?

O desafio da sociedade brasileira será garantir que as oportunidades hoje existentes no País do futuro se materializem plenamente. Para isso, há avanços institucionais a serem realizados o mais rapidamente possível, via reformas estruturais que levem a regras críveis de controle dos gastos públicos, ao aumento da produtividade – via ampliação da qualidade da educação e da infraestrutura –, à melhora do ambiente de negócios e ao aumento da capacidade de crescimento sustentável da economia, do ponto de vista social, ambiental e econômico.

O setor de seguros tem papel fundamental nesse processo, pois, ao reduzir incertezas e garantir proteção financeira, diminui as incertezas, potencializando a tomada de decisões de consumidores e empresários.

A principal lição de casa do setor privado será, enquanto exige reformas estruturais, garimpar tais oportunidades, mesmo diante do pessimismo que tem se materializado para a economia em 2022.

Em um país que tem sobrevivido há mais de 500 anos a crises de diversas naturezas, olhar adiante é um exercício, cada vez mais, necessário e construtivo para superar os desafios.

* Robson Rodrigues Pereira é economista, com doutorado pela USP, professor universitário, consultor de empresas, além de autor de diversos artigos relacionados ao cenário econômico. Também atuou em departamentos econômicos de grandes bancos do mercado brasileiro.

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