Por Eduardo Tambellini*
A inadimplência no Brasil ficou controlada entre 2020 e 2021. Porém, desde 2022, o índice passou a mostrar crescimento puxado, principalmente, pela inflação e desemprego. Neste cenário econômico em rápida mudança, os testes de estresse se tornam mais importantes do que nunca. Por isso, compartilho neste artigo algumas recomendações para a realização desses testes que ajudam os credores a projetar possíveis choques entre carteiras, pessoal e despesas.
Nem tudo é notícia ruim! A melhora na curva de inflação e a queda no desemprego devem ter um impacto positivo nos indicadores de inadimplência nos próximos seis a 12 meses. Outros dados, como o IPCA – que em junho atingiu o menor índice desde outubro de 2020 -, ficando em 3,16%, e o preço da cesta básica brasileira que subiu 0,57%, ante 29% nos 12 meses anteriores são boas notícias.
É importante lembrar que o preço dos alimentos é um dos principais fatores que têm puxado para baixo o índice geral da inflação, segundo os economistas. Enquanto isso, o desemprego atingiu 8% no 2º trimestre do ano, número bem diferente dos 14,9% observados em agosto de 2020, e no auge da pandemia.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, realizou o segundo corte de juros do país em 0,50 ponto percentual, para 12,75% ao ano. Por mais que os juros ainda estejam altos, comparado a outras economias, podemos ver seu impacto na taxa de inflação quando comparada a outros países:
A taxa de inadimplência medida pelo indicador Over 90 (que traz o saldo de contas em atraso acima de 90 e até 360 dias, dividido pelo saldo da carteira até 360 dias), vem mostrando crescimento desde o início de 2022. Anteriormente, o índice apontava para um período de tranquilidade, registrando a menor taxa histórica, resultado da pandemia, quando as pessoas passaram a gastar menos, e de planos de ajuda criados pelo governo federal que trouxeram uma certa “ilusão” de que tudo estava sob controle.
Entretanto, nesse mesmo período crescia a taxa de desemprego, a guerra da Ucrânia se iniciava e a inflação aumentava. Todos esses fatores ajudaram a criar o cenário de alta nos indicadores de inadimplência.
Uma oportunidade em meio a alta da inadimplência
Vivemos um período, entretanto, que traz uma grande oportunidade para redução da inadimplência. A implementação do programa de negociações de dívidas denominado Desenrola Brasil estimulou credores e devedores a negociar as dívidas com planos que trazem descontos para pagamentos à vista com mais opções de parcelamento.
Desde março de 2021, o número de Brasileiros reincidentes na inclusão de seus nomes negativados em bureaus de crédito deu um salto, conforme dados do SPC Brasil (gráfico abaixo):
Estes dados mostram a dificuldade de os credores oferecerem planos efetivamente sustentáveis e que permitam que os inadimplentes quitem seus débitos. É esperado agora que o fator positivo trazido pelo Desenrola afete a oferta atual de forma diferenciada e permita com que os inadimplentes quitem efetivamente seus débitos.
A necessidade de ofertas sustentáveis
O Desenrola traz um novo cenário onde empresas e consumidores se motivam a buscar soluções para recuperação de crédito. Com as informações acima sobre a reincidência da negativação fica claro o quanto é desafiador fazer a oferta certa ao cliente certo.
Conhecer o cliente amplamente e não apenas agrupá-lo pelo seu nível de risco tem sido o desafio de todas as empresas. Falamos de segmentações há mais de 25 anos, mas afinal qual é o tipo de segmentação que teremos que encontrar para atender todas nossas necessidades?
Dentro de uma mesma classe de risco, por exemplo, temos clientes com capacidades de pagamento diferentes no que tange ao valor da parcela. Um pode se adequar a pagar uma prestação de R$ 200, enquanto outro pode pagar, por exemplo, R$ 1 mil. Um pode pagar R$ 400 no mês, porém outro pode só conseguir pagar R$ 100 por semana; e garanto 4 parcelas de R$ 100 dá R$ 400, mas não é a mesma coisa para um profissional que tem rendimentos semanais se recebido de forma mensal.
Bancos já acessam o SCR e, ainda hoje, com o advento do open banking, conseguem cada vez mais ter acesso a informações que permitem criar segmentações, ou seja, novas “personas” que possibilitam diferentes opções de quitação, como a oferta de determinados planos de parcelamento. É importante entender o que cabe no bolso do cliente e, no momento da negociação, entender se ele precisa de mais prazo, o que resulta em valor menor de parcela.
Estamos no século XXI, na era da informação!!! Informação é PODER, e com isso teremos a capacidade de gerar melhores resultados.
* Eduardo Tambellini é consultor da FICO
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