A preparação dos profissionais de saúde desponta como peça-chave para que o país consiga responder ao envelhecimento acelerado da população, ao aumento de pessoas com múltiplas doenças crônicas e às desigualdades regionais na oferta de cuidado. É o que aponta o mais recente relatório da série Caminhos da Saúde Suplementar 2035, do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), que alerta para a ausência de políticas integradas de desenvolvimento profissional e para a acentuada concentração de mão de obra nas capitais.
O superintendente executivo do IESS, José Cechin, ressalta que o cenário exige uma transformação profunda. “A força de trabalho em saúde precisa estar preparada para uma sociedade que envelhece rapidamente e que exige competências técnicas, sociais e culturais mais amplas do que as práticas tradicionais contemplam”.
Apesar do aumento de cursos e vagas na área, o estudo revela que a formação ainda não estimula, de forma consistente, habilidades interprofissionais, domínio de tecnologias e sensibilidade às diferenças socioculturais. O retrato da desigualdade impressiona: cidades com mais de 500 mil habitantes reúnem 57,8% dos médicos, enquanto pequenos municípios ficam praticamente descobertos.
O próprio Cechin reforça o risco de manter o atual rum.: “Sem investir em qualificação permanente, continuaremos formando profissionais que não respondem adequadamente às necessidades reais da população, especialmente nas regiões mais vulneráveis”. As recomendações incluem adoção de políticas de educação continuada, uso de ferramentas digitais como simulação e teleducação, certificação de práticas formativas e inspiração em modelos adotados por Canadá, Austrália e Reino Unido, países que estruturaram processos de avaliação periódica e acompanhamento do desempenho ao longo da carreira. Como destaca o dirigente do IESS: “a formação não termina na graduação. É preciso garantir padrões mínimos de competência por toda a trajetória profissional.”
O impacto da capacitação insuficiente aparece em dados preocupantes, como a alta prevalência de problemas de saúde bucal entre crianças e adolescentes e a disparidade na distribuição de enfermeiros: o Sudeste reúne quase metade desses profissionais, enquanto regiões como o Norte continuam em situação crítica.
Com uma população cada vez mais idosa, a demanda por geriatras, psicólogos, profissionais de reabilitação e cuidadores formais deve aumentar. Mesmo com projeções indicando melhora na razão de médicos por habitante até 2035, a desigualdade tende a persistir — com o Distrito Federal podendo ultrapassar 11,8 médicos por mil habitantes, em contraste com estados da Amazônia Legal ainda muito abaixo desse patamar.
Ao final, o estudo reforça que só uma ação coordenada entre governo, ensino e serviços poderá transformar o quadro. Valorização profissional, integração entre categorias e investimento contínuo no desenvolvimento humano surgem como pilares para um sistema de saúde mais justo, eficiente e preparado para o futuro.
Fonte: com informações do IESS
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