Agenda ASG em alta, seguro ambiental em baixa: empresas do Ibovespa ignoram proteção ambiental

O seguro de riscos ambientais apresentou neste primeiro semestre um crescimento de 15,8%, com arrecadação de R$ 87,2 milhões. As indenizações pagas também aumentaram, chegando a R$ 64,8 milhões, o que representou 122,8% a mais de valores pagos a pessoas e empresas como ressarcimento por acidentes ambientais. Embora estes números levantados pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) indiquem viés de alta, na avaliação do mercado ainda estão muito aquém do potencial deste seguro, revelando uma desconexão de boa parte da indústria para o valor de sua contratação.

Um exemplo emblemático vem do Ibovespa. De acordo com levantamento exclusivo feito pela Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), das 79 empresas listadas dentro do seu Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), apenas 10 contam com apólices vigentes de riscos ambientais – correspondendo a 12%. Vale destacar que, desse total, apenas duas não apresentam exposição ambiental – todas as outras se encaixam no perfil, com graus diferentes de risco potencial ao meio ambiente.

“A falta dessa proteção expõe companhias a riscos financeiros e reputacionais e compromete os avanços da agenda ASG no país”, explica Fábio Barreto, presidente da comissão de Responsabilidade Civil da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).

A lista das empresas consideradas sustentáveis pela Bolsa de Valores de SP mostra que, apesar do passivo ambiental existente no Brasil, 88% delas ainda não adotaram, no seu “checklist ASG” (Ambiental, Social e Governança), a contratação deste seguro que cobre custos de remediação dentro dos limites de sua propriedade ou que estejam sob sua responsabilidade, e que indeniza terceiros afetados por acidentes ambientais.

As informações do Ibovespa, que podem ser acessadas no próprio site (basta clicar em iseb3.com.br/questionario e abrir em “Questionários 2024 consolidados em planilha Excel”), referem-se ao 1º quadrimestre de 2024. Em tempo: a contratação deste seguro é um dos indicadores que credenciam uma companhia a entrar neste Índice, ou seja, a pontuação da companhia estaria ainda melhor se esta proteção fosse adotada.

Iniciativa pioneira na América Latina, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) busca criar um ambiente de investimento compatível com as demandas de desenvolvimento sustentável da sociedade contemporânea e estimular a responsabilidade ética das corporações. Iniciado em 2005, e originalmente financiado pela International Finance Corporation (IFC), o braço financeiro do Banco Mundial, o ISE foi elaborado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVCes) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP).

De acordo com o presidente da comissão da FenSeg, a situação descrita mostra como a maioria das empresas no país, tirando algumas exceções, ainda não tomou para si o valor do seguro ambiental. “Mudar este cenário passa pelo amadurecimento das grandes corporações, de modo que este seguro deixe de ser visto como um custo a mais para a operação, e passe a ser compreendido pelo que ele é, um instrumento de proteção socioambiental que favorece a perenidade e sustentabilidade da economia e da sociedade de modo geral”, argumenta Barreto.

Detalhe: a lista das empresas que ganharam o direito de se apresentar dentro do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3) do Ibovespa abrange 27 setores da indústria, que somam quase R$ 2 trilhões em valor de mercado, e representam cerca de 40% do total negociado em ações na Bolsa de São Paulo.

“No Brasil, as questões de ASG estão avançando nas empresas, e as seguradoras podem contribuir, na medida que concedem as garantias às empresas, tanto revisando o gerenciamento dos riscos ambientais e questões de governança, quanto endossando as práticas ambientais”, afirma o executivo que tem mais de 20 anos de experiência no mercado nacional e internacional, com especialização no tema: no seu currículo, além de MBAs em Gestão & Tecnologias Ambientais e Gestão de Áreas Contaminadas & Revitalização de Brownfields, pela USP, consta também a formação em Perícia & Valoração de Danos Ambientais pela PUC-Minas.

Barreto reconhece, no entanto, que o fato de o Brasil ter incorporado o “seguro ambiental” no ISE praticamente desde sua criação é uma iniciativa inovadora e um avanço para a agenda ASG.

O presidente da comissão de Responsabilidade Civil da FenSeg aposta em uma gradativa mudança de paradigma que coloque o seguro ambiental como um diferencial mais valorizado, a partir da disseminação da percepção de ganho para as empresas, do ponto de vista material e reputacional.

“Minha expectativa é que isso mude já a curto prazo. Imagine que apenas as 200 empresas mais líquidas da B3 podem obter o selo ISE. O peso do indicador ‘seguro ambiental’ sempre foi pequeno, entre 1,5% e 2%. As empresas não ligavam para isso. Mas com o avanço da agenda ASG, especialmente entre 2021 e 2022, o número de empresas buscando participar do processo seletivo de inclusão no ISE aumentou 70%, o que fez com que o total de empresas certificadas aumentasse de 46 para quase 80 em 2023-2024”, acrescenta.

Na sua avaliação, o ‘seguro ambiental’ tende a ser mais valorizado nessa espécie de vestibular. Até porque, diz Barreto, os executivos de alto escalão precisam atingir metas ASG para recebimento de seus bônus. Se a meta de um CFO (Chief Financial Officer, o principal responsável pela condução das finanças) é colocar sua empresa dentro do ISE, ele terá que assegurar junto ao seu CSO (que significa Chief Sustainability Officer, sendo o responsável por sustentabilidade e ASG dentro de uma corporação) que todas as respostas – ou a maioria delas – sejam positivas nesse quesito, para garantir as melhores chances de adquirir o selo ISE.

“Por outro lado, imagine a empresa que está lá (no ISE), não contratou o seguro ambiental, e de repente, naquele ano, acaba saindo do índice, pois outras se posicionaram melhor no questionário?”, pontua o executivo, lembrando que as empresas que estão dentro do ISE tem seu valor de mercado avaliado 20 pontos percentuais acima, dentro no âmbito da Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3) do Ibovespa.

Fonte: FenSeg

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