6 pontos sobre a implementação do Open Insurance no Brasil

O coordenador do Comitê de Open Insurance da camara-e.net, Manuel Matos, entrevista Bruna Cataldo, Head de Pesquisa do Instituto Propague, sobre a implementação do sistema aberto de seguros no Brasil e sua interoperabilidade com o Open Finance. Veja abaixo os pontos tratados na íntegra:

 

1. Discussão sobre o atual estágio de implementação do Open Insurance no Brasil:

Com início no dia 1º de março e previsão de avançar até julho de 2023, a segunda etapa da implementação do Open Insurance contempla o compartilhamento de dados pessoais dos usuários, incluindo cadastro de clientes e de seus representantes – a princípio, apenas dados cadastrais e de seguros residenciais. Na virada para a terceira etapa, será possível iniciar serviços por meio do ecossistema, e a expectativa é que esse ecossistema esteja em total operação até o fim do ano.

O projeto demanda uma grande infraestrutura, envolve dados sensíveis e coordenação entre os agentes para funcionar. A implementação do Pix, especificamente, criou uma certa expectativa de velocidade dos projetos que não pode ser replicada em nenhum dos braços do Open Finance, incluindo o Open Insurance.

As mudanças de calendário geraram uma discussão sobre quando os benefícios poderão ser sentidos. A Capgemini (líder global em serviços de consultoria) lançou um relatório sobre o tema, indicando que agentes do mercado de seguros postergassem as expectativas de impacto no setor de 2024 para 2025. Ainda assim, a alta complexidade do projeto, tanto em tecnologia, quanto em governança, demandam cuidados com as etapas de implementação que já foram observados no Open Banking e podem ser esperados no Open Insurance, com a diferença que os aprendizados do primeiro podem ser absorvidos pelo último.

 

2. Análise dos resultados preliminares do Open Insurance e impactos no setor de seguros e na economia em geral:

É difícil falar em impactos com o projeto em implementação, ainda mais considerando que o Open Finance como um todo é uma medida regulatória com um ciclo de adesão e benefícios mais longos do que outras medidas com a qual é comumente comparado. Mesmo o Open Banking, que começou antes, ainda está em um ciclo de maturação. Iniciado em 2018, esse projeto demorou alguns anos para se consolidar. Falar em impactos, ainda que preliminares, seria prematuro no estágio atual de desenvolvimento da medida.

Ainda assim, é possível falar em alguns impactos que são esperados para o setor, sendo eles:

>> A possibilidade de mais competição com a facilitação da entrada de novos players (“insurtechs”, por exemplo), já que uma barreira importante é justamente o acesso ao histórico de informações, às bases de dados históricos coletivos e individuais necessários para elaborar as propostas;

>> Expansão da base de clientes: neste segundo caso, a expectativa é que o número de brasileiros participando do mercado de seguros aumente a partir da facilitação do acesso e melhora nas ofertas. O Brasil ainda tem uma baixa cobertura de seguros e isso tende a mudar.

Para a economia geral, o Open Insurance e o Open Finance, têm potencial de inclusão financeira via aumento da personalização de produtos, que poderão atender a uma parcela da população que hoje não consegue ser bem atendida pelo mercado. O próprio aumento de competição pode contribuir para isso ao melhorar condições de preço para os usuários do sistema, já que a definição da propriedade dos dados, sendo do consumidor, reorienta a lógica do mercado para a demanda dele.

 

3. Debate sobre a regulamentação do Open Insurance e a necessidade de ajustes regulatórios para garantir um ambiente justo e competitivo para todos os participantes do mercado / Discussão sobre a interoperabilidade e padronização de dados no Open Insurance:

A importância está associada ao histórico brasileiro de concentração da oferta de serviços em poucos provedores, o que resulta em um produto com altos preços sem ganhos de qualidade e inovação. A movimentação de abertura de dados, com consentimento do cliente, sem que haja uma estruturação do regulador, não teria necessariamente o efeito desejado de reorientar a lógica do mercado para a demanda do consumidor – uma vez que esses agentes não teriam incentivo para participar. Até seria possível ter ganhos em inovação de produto, mas, a chance de refletir em competição e melhores preços seria menor.

A interoperabilidade entra nessa discussão. A garantia de uma padronização de dados e tecnológica, de regulamentações claras e de interoperabilidade são características que constroem o ambiente no qual as empresas, principalmente as entrantes, poderão ter oportunidades mais igualitárias de competir por clientes via preço e qualidade dos produtos.

 

4. Identificação de oportunidades de negócios e de inovação no setor de seguros por meio do Open Insurance:

As possibilidades são grandes, mas três chamam atenção nesse estágio inicial da medida:

>> Negócios para players: focados na prestação de serviços para seguradoras e intermediação na oferta de serviços de seguro criadas pela introdução da figura da sociedade iniciadora de serviços de seguros, que têm potencial de transformação do modelo de distribuição do setor no Brasil;

>> Criação de soluções de compartilhamento de dados: relacionados a registros feitos por dispositivos embarcados conectados ou utilizados pelos clientes. Isso permitiria a oferta de um rastreador que mapeie o comportamento com bens segurados móveis, permitindo as seguradoras usarem a análise desses dados para adequar as condições de oferta;

>> Criação de agregadores: permeiam como oportunidade de negócio todo o guarda-chuva do Open Finance e permitem que clientes tenham visibilidade de todos os produtos contratados, mesmo quando utilizam empresas diferentes para cada uma. Essa oportunidade pode beneficiar não só pessoas físicas, mas tem grande potencial com pequenas e médias empresas, pois facilitam a gestão financeira de forma ampla.

 

5. Avaliação da implementação do consentimento do usuário no Open Insurance e possíveis desafios:

A criação de confiança com o público que está lidando cada vez mais com o vazamento de dados e golpes financeiros. No limite é um desafio de educação financeira e tecnológica: conseguir passar a mensagem do objetivo do projeto, que é dar ao consumidor a propriedade dos seus dados, que apenas ele próprio pode ter acesso.

Em uma segunda etapa, em que essa compreensão existir, de que é sobre empoderar o cliente como dono dos dados, educá-los sobre os benefícios que podem surgir de efetivamente apertar o botão de consentimento. Para isso, é preciso ir além da educação financeira, mas também alcançar a construção de confiança na segurança do projeto. Não basta ele ser seguro do ponto de vista infraestrutura, essa segurança precisará ser mostrada de alguma forma para o consumidor.

Uma vez ultrapassados, os desafios iniciais de infraestrutura e coordenação dos agentes para colocar o ecossistema de pé, ganham destaque como possíveis barreiras que terão de ser superadas para o crescimento do projeto e para que ele alcance seus objetivos.

 

6. Estudo de casos de sucesso e de fracasso em implementações de Open Insurance em outros países:

O Brasil é colocado no cenário internacional como pioneiro na implementação específica de um projeto de Open Insurance estruturado pelo regulador. Isso atesta o quão na fronteira tecnológica e regulatória o país está na área financeira, mas, também traz a dificuldade de não ter como aprender com experiências prévias ao mercado de seguro.

Ainda assim, há diversos aprendizados que podem ser acompanhados em uma lógica de Open Finance de forma mais ampla.

O Brasil tem olhado bastante para as dificuldades que o Reino Unido enfrentou com seu modelo de governança, principalmente considerando que muito do projeto teve a experiência da região e da União Europeia como benchmark, devido ao seu objetivo competitivo.

Vale destacar que, dependendo da fase que estamos falando, é preciso fazer um recorte, levando em consideração que os projetos são todos relativamente recentes. Mas, o que chama atenção é a forma como vários países asiáticos têm orientado a abertura de seus sistemas financeiros para uma lógica de incentivo à inovação. Recentemente, a experiência australiana de expandir a abertura para além do sistema financeiro, incluindo outros setores da economia, também tem sido acompanhada de perto. O Brasil acompanha estes movimentos globais de perto, o que tem gerado resultados, já que os demais estão sendo colocados como líderes globais em Open Finance.

O Comitê de Open Insurance da camara-e.net reúne empresas e instituições com atuação no setor de seguros para discutir temas relacionados ao Open Insurance, sistema de seguros aberto que permite aos consumidores de seguros, previdência complementar aberta e capitalização consentir com o compartilhamento de suas informações para a oferta de serviços personalizados e inovadores.

 

Fonte: camara-e.net

 

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